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Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo - FotoGrande vencedor de sua última edição, Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo soa como um upgrade dessa receita. A protagonista Ruth é apresentada como uma filha legítima de Sundance, e logo, desde as primeiras cenas: do quintal escuro de sua casa, ela ouve os vizinhos reunidos, sorrindo, e entra em casa cabisbaixa. Ruth se aproxima da meia-idade acima do peso e fora do padrão de beleza. Mas a sua solidão reside nos pequenos detalhes, no seu senso de deslocamento. A revolta de Ruth diante da falta de cidadania dos outros rende momentos de deliciosa comicidade. Muito pelo modo sutil com que Melanie Lynskey dá vida ao comportamento antissocial da personagem, com os mesmos ecos de esquisitice de sua Rose em Two and a Half Men.
A melancolia e a inadequação de Ruth são, portanto, aspectos comuns nos tipos de Sundance. Mas Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo é mais que isso. Quando a protagonista é assaltada e decide ocupar a vida monótona caçando pistas sobre o assaltante, a fim de reaver os seus pertences, o filme revela características de uma aventura cômica oitentista. De tom leve, ambientada nas ruas pacatas de uma cidadezinha americana, ensolarada. A introdução de Tony (Elijah Wood), tomando refrigerante e ouvindo rock pesado em seu walkman, é uma ode perfeita aos anos 80. Só que o filme destoa. Na edição pontualmente ágil, que confere dinamismo aos afazeres domésticos de Ruth, recoloca o filme nesse novo século de Snatch - Porcos e Diamantes. E, principalmente, na transição de seus temas animados e ambientação solar para os interiores sombrios e a trilha grave que ilustram os sentimentos da protagonista e seu estado de urgência pós-roubo.
Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo - FotoJá Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo, então, surpreende. (Inclusive, é bom conferi-lo sem saber nada. Mesmo sem spoilers, não siga adiante se preferir preservar a experiência.) A trama se assevera inesperadamente conforme Ruth e Tony se aprofundam em sua investigação. Como num filme dos irmãos Joel e Ethan Coen, personagens e situações percorrem uma linha tênue entre o realismo e a fantasia (como resultado, o mais bizarro que se pode extrair do cotidiano). E, de hilários, eles vão se tornando mais imprevisíveis, mais perigosos. Como em Fargo, o longa-metragem de Macon Blair (que interpreta o nerd do bar) se torna uma comédia de erros brutal.
Em sua estreia na direção, o também roteirista constrói dois filmes em um — numa ruptura muito bem representada pela fotografia, que perde a saturação, fica fria, quase azulada. O lago numa localidade remota, típico dos grandes suspenses do cinema, é o cenário do clímax. O céu nublado e a vegetação remontam a um elogiado thriller recente em que Macon Blair atua, Sala Verde. Assim, desse conjunto de referências distintas bem articuladas, o cineasta, promissor, realiza uma obra ambiciosa numa roupagem despretensiosa. Tanto esquisita, combinando com a protagonista Ruth e compondo uma ironia perfeita com a forma e o conteúdo do título Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo; como excelente, saltando os gêneros (do drama para a comédia, da comédia para o suspense) para, imprevisivelmente, se destacar das fórmulas do Festival de Sundance.
- Ano de produção:
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- Duração:1h33min
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- Dirigido por:
- Áudio:Português
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